Um pequeno prefácio
Quando trabalhei na área de garantia da qualidade, na implantação de sistemas da qualidade (a famosa ISO 9000), aprendi um conceito que não está presente no Michaelis: a diferença entre eficácia e eficiência. Basicamente, eficácia é “fazer a coisa certa” e eficiência é “fazer da melhor forma”.
Sendo assim, imagine que seu objetivo seja cortar um pão como uma faca. Se você corta o pão, mas corta o dedo junto, você foi eficaz – pois atingiu seu objetivo – mas não foi eficiente, pois cortar o dedo não fazia parte do plano inicial. Ou então imagine uma corrida onde todos os pilotos completam todas as voltas: todos foram eficazes, porém tiveram níveis diferentes de eficiência: o primeiro foi mais eficiente que o segundo e assim por diante.
Sobre a comunicação
Neste nosso mundo atual muito se fala sobre a comunicação. Ela se tornou objeto de estudos profundos, visto que a mesma quando bem feita aumenta a produtividade de qualquer coisa em qualquer área.
Desta forma, os especialistas dizem que para haver comunicação é preciso que haja um emissor, um receptor, uma mensagem, um meio e etc. À partir deste estudo, a comunicação técnica obteve grande avanço – seja por meio de manuais escritos, desenhos técnicos ou mesmo de forma verbal. O problema é que fora deste contexto a comunicação não tem a mesma eficiência – nem a mesma eficácia, eu diria.
Quando lidamos com linguagem técnica, lidamos com uma comunicação matemática. As coisas são ou não são como num sistema binário (que trabalha apenas com 0 e 1, sim ou não), sem que emissor e receptor possam interferir com interpretações pessoais sobre a mensagem. Mas não é assim quando se trata de relacionamentos humanos. Nestes, a mensagem assume significados diferentes para emissor e receptor.
Nós dificilmente ouvimos o que nosso interlocutor está dizendo. Geralmente, ouvimos o que “achamos que ele quer dizer” – e é aqui onde começam os equívocos na comunicação. Isso acontece porque cada ser humano tem conhecimentos e vivências diferentes e, a partir disto, busca interpretar o mundo à sua volta. Essa interpretação atinge também as mensagens que recebemos diariamente e isso se aplica a todos os tipos de comunicação citados anteriormente.
Durante um diálogo – tomo por diálogo qualquer situação onde ocorra comunicação, ou seja, qualquer atividade em que haja emissor, receptor e mensagem, como uma conversa (formal ou informal), uma leitura, assistir a um filme ou a uma peça de teatro, etc. - existem basicamente dois tipos de comportamentos adotados pelo ser humano: o separado e o ligado.
O comportamento separado é aquele em que o receptor recebe a mensagem e tenta – as vezes de maneira automática – encontrar uma brecha que possa explorar com o intuito de derrubar o argumento do emissor. Este comportamento é comum, para citar alguns exemplos, entre discussões de casais, pais e filhos, advogados de defesa e acusação, etc. Ou seja, o comportamento separado está, quase sempre, presente num contexto de conflito.
O comportamento ligado, como os próprios nomes sugerem, é exatamente oposto ao comportamento separado. No ligado, o receptor está realmente interessado em compreender o ponto de vista do emissor. Isso não quer dizer que o receptor vá concordar com este ponto de vista, mas qualquer julgamento que ele venha a fazer sobre a questão será tecido apenas depois de compreender de fato do que se trata a questão. Este é - ou deveria ser - um comportamento comum entre mestre e aprendiz.
Partindo destes dois princípios, para garantir a eficácia e aumentar a eficiência da comunicação, é necessário fazer uma análise de cada situação e uma escolha consciente entre os dois tipos de comportamento deve ser feita.
Sabendo qual a questão em pauta, e escolhendo o melhor comportamento para adotar durante o diálogo, as chances de atingir o objetivo serão muito maiores. Alguns exemplos:
Se você recebeu uma ligação do tipo “tele(chato)marketing”, elegantemente separado (afinal o pobre operador é um ser humano e tem família pra sustentar) destrua seu interlocutor e coma-lhe o fígado sem dó.
Por outro lado, se tua mulher (namorada, amante, esposa ou todas-as-anteriores) está te pentelhando, gentilmente ligado compreenda o por quê daquela toalha molhada e embolada em cima da cama a incomodar tanto. Desta forma, as famosas DR terão um final feliz, ao melhor estilo “assassino profissional” – rápido, limpo e sem dor – e você poderá, enfim, assistir ao jogo de domingo em paz.
Robson Ribeiro
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