O meu relógio não se mexia,
o meu mundo era aquela praça.
Meu casulo de inocente alegria
era tecido com o ar de tua graça.
Eu falava, falava e falava. Pena.
Quase nunca eu ouvia. Desculpa.
Hoje sou uma pessoa mais amena,
mas a que custo? Minha culpa.
O sonho? Ser feliz pra sempre.
Mas, de repente, o labirinto.
A loucura me caiu no ventre
Amarga e indigesta como absinto.
Muito sonhei, pouco vivi.
O sonho foi virando pesadelo,
urubu no lugar do bem-te-vi.
Esqueci de acordar, hoje eu vejo.
Não joguei a âncora e você se foi.
Não plantei nada e você se foi.
Não disse “bom dia” e você se foi.
Eu fiquei perdido e você se foi.
Tarde demais nunca foi tão tarde.
Mesmo assim não saberia o que fazer.
Não saberia o que, nem como dizer.
Talvez eu continue um covarde.
Como noiva no altar sem o anel,
Alma penada procurando o céu,
Cavalo inanimado preso no carrossel,
Pintor com tinta sem pincel.
É assim que eu me sinto quando penso,
quando seco o rosto, quando me rendo.
Esse momento está por demais extenso,
com cara do pesadelo mais horrendo:
Preso na eterna e densa escuridão,
com uma flecha travessa no coração,
olhos bem abertos sem intenção,
vendo você distante e sem reação.
E pensar que meu relógio não se mexia,
que o meu mundo era aquela praça.
Que o meu casulo de inocente alegria
era tecido com o ar de tua graça.
Quem poderia imaginar?
Quem pode explicar?
Robson Ribeiro
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