sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Lobo e a Fênix

Diz a lenda que, muito antes dos seres humanos habitarem a Terra, os animais caminhavam soberanos sobre ela. Eles, os animais, tinham a capacidade de falar, pensar e até mesmo de amar. E é sobre o amor que fala esta história.

Num lugar muito distante, que não posso dizer com exatidão, vivia uma matilha. Este lugar era lindo, composto por altas montanhas rochosas e uma planície esverdeada que inundava tudo ao redor. Nos cumes, sempre se faziam presentes coberturas de neve, apesar do Sol banhar aquele lugar de forma ininterrupta, aquecendo e iluminando a tudo e a todos. Na base destas montanhas podia-se notar algumas fendas muito profundas, e uma destas fendas foi o local escolhido pelo chefe do clã para abrigar a matilha.

O Lobo era ainda muito jovem, e tinha as características de um jovem lobo: era forte e impulsivo. Adorava explorar tudo ao redor, conhecer outros lugares, e por isso mesmo se fazia muito ausente na toca. Ninguém nunca soube o que o Lobo buscava.

Certo dia o Lobo decidiu subir até o cume de uma das montanhas. Não conhecia a neve, e desejava conhecê-la há muito tempo. A subida era muito difícil, pois a montanha era feita de uma rocha muito escorregadia e traiçoeira. Em sua subida, de repente, o Lobo ouviu um lindo canto de pássaro – mas este não era um canto qualquer. Era o canto mais lindo que jamais ouvira! O Lobo ficou em dúvida: queria conhecer a neve, mas precisava daquele canto mais do que qualquer coisa.

Por fim, decidiu-se. Deu meia volta e seguiu o canto, resoluto a encontrá-lo e tomá-lo para si. Em seu ímpeto, o Lobo pisou em falso numa pedra solta, e quebrou uma das patas dianteiras. Soltou um uivo dolorido para pedir ajuda, mesmo sabendo que ninguém de sua matilha poderia ouvi-lo.

Quase cego por causa de sua dor, o Lobo sentiu uma presença inesperada. Seu olfato acusou um leve aroma puro e adocicado. Seus pelos eriçaram-se quando uma onda de calor repentino dominou todo o seu corpo. Um líquido quente envolveu sua pata quebrada, livrando-o de sua dor, e o Lobo adormeceu.

Acordou algum tempo depois. Ao notar o canto, deu um salto e pôs-se de pé, por puro instinto – o canto estava perto demais. Sua pata estava curada, e podia enxergar agora. Estava numa gruta escura e pequena, e à sua frente, junto à parede do fundo, uma ave magnífica de tom vermelho-alaranjado estava pousada sobre uma pedra, cantando alegremente.

Como vim parar aqui, e como minha pata curou-se? - perguntou-se o Lobo.



    • Ei, ave, foi você quem me trouxe aqui?



  • Como resposta, o Lobo obteve apenas o canto.

O Lobo permaneceu na gruta. Gostava muito da companhia da ave, mesmo que não pudesse compreender o seu canto ou por que cantava. Ficou lá por anos.

Mas, com o passar do tempo, a ave foi enfraquecendo. Não havia comida, e os invernos eram rigorosos. E o Lobo não notou nada disso. Tinha se acostumado ao canto da ave, e apenas o canto lhe bastava. Então foi a vez do Lobo sentir sua energia esvair-se, mas tinha medo de sair da gruta e perder sua ave.

Certo dia o Lobo despertou, e notou que tinha dormindo tempo demais. Olhou para a pedra da ave, mas esta não estava mais lá. Ao se aproximar da pedra, notou um punhado de cinzas onde estivera a ave mais linda que conhecera. E então, chorou. Chorou copiosamente, e só podia perguntar: por que me deixaste só?

Então o Lobo pôde ouvir o canto novamente, vindo de fora. Sabia que aquele canto só podia ser de sua amada ave. Mas cansado e ferido, tinha muito medo de voltar para o mundo exterior. Dias se passaram e o canto se repetia, como um convite – não, como um chamado. O Lobo então, definhou e morreu.

A ave chorou novamente sobre o Lobo. Suas lágrimas quentes, ao tocarem o corpo inanimado, queimou-o totalmente, e restaram apenas cinzas. E a ave cantou. O canto mais belo que jamais cantara. Um canto repleto de dor e angústia no início, porém de uma alegria indescritível no final.

Quando terminou, saiu da gruta e alçou voo. Alguns instantes depois, saiu da gruta também o Lobo, jovem e forte como sempre fora. Pôde ouvir a Fênix no céu, cantando, e pôs-se a uivar para acompanha-la. Agora podia compreender seu canto, e porque cantava.

E foi assim, segundo dizem, que o Lobo viveu seu amor. A Fênix no ar e ele na terra. Cada qual seguindo seu caminho, cantando juntos a música que só os dois sabiam, se amando juntos da forma que só os dois poderiam.

Robson Ribeiro

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