domingo, 25 de abril de 2010

2 = 1

Quando me sinto assim,

vejo teu rosto nas estrelas.

Lá, eu sempre pude vê-la,

e isso não terá um fim.

Ainda jovem fiz um pedido,

de imediato Ele me atendeu.

Implorei ao nosso pai, Deus,

e meu amor foi correspondido.

As vezes bate essa tristeza,

mas basta me lembrar de nós

para que eu não me sinta só,

para me fundir à natureza.

Você é meu porto seguro,

o local para onde posso voltar.

Eu sou o peixe e você o mar.

Você me protege do escuro.

Nossa alma tem o mesmo tom.

Nosso amor é nosso maior dom.

Nosso nome tem o mesmo som:

o seu nome é, também, Robson.

Robson Ribeiro

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Meu Amor

O meu amor ama
sem nenhum domínio:
No sorriso ou na cama,
o mesmo fascínio.
O meu amor espera:
sabe que a hora chega.
Ele não se desespera,
Pois a fé o aconchega.
O meu amor tem fé:
não aquela que cega,
não aquela que apega.
quem tem sabe qual é.
E assim eu amo:
amor sem dano,
sem dor ou tristeza.
Amo com pureza.

Robson Ribeiro

terça-feira, 13 de abril de 2010

Setembro

Cacete, como tá frio aqui, né? Muito frio. Tá nevando lá fora ainda? É, ainda tá nevando. E pensar que demos sorte de conseguir esta casa com telhado. Que situação de merda – dizer que tivemos sorte só por isso. Será que era melhor ter nos deixado capturar? Tá certo, vou parar com isso. Que frio! Como eu gostaria de acender uma fogueira.

Acho que peguei no sono de novo. É dia ou noite lá fora? Noite. Mas isso não importa mais, já perdi as contas – não sei se estamos aqui há dias ou semanas. Só me lembro que a comida acabou há três dias. Hahaha, “comida”. Eu sei que é uma tragédia, mas quem nunca riu da própria tragédia? É, concordo – geralmente rimos da tragédia alheia. Tá nevando ainda? Preciso esticar as pernas...É claro que eu não vou lá fora! Tá, tá! Eu sei que eles ainda estão procurando judeus, mas você acha que eles vão zanzar por aí com uma nevasca dessas? Pronto. Que delícia! Achei que meu corpo nunca mais sairia daquela forma de concha! Tá com fome? Eu vi um rato passando ali atrás – vou fazer uma armadilha. A isca? Boa pergunta.

Não tô conseguindo dormir – tá muito frio. E essa neve. Eu gostava da neve quando era criança. A gente montava bonecos, fazia anjinhos, brincava de atirar bolas de neve uns nos outros. Papai ficava uma arara conosco, mas fazer o que? Tínhamos de viver nossa infância. Ainda bem que o fizemos, vou sentir falta deles todos: papai, mamãe e meus dois maninhos. Será que morreram na bala ou no gás? Ah, não se preocupe – não tenho mais lágrimas pra chorar. Tá com frio? Eu daria tudo por uma coberta, uma lareira e uma bebida quente! Tá bom, vou parar de falar. Eu hein.

Tá acordado? Ouvi alguma coisa, acho que foi a armadilha. GRAÇAS À DEUS!! Não acredito! Estamos salvos! Cadê aquela pedra? Como assim, não sabe? Como vou matá-lo? Tem razão, nojo é um luxo que não posso me dar nessa situação. E depois, uma mordida dura menos de dois segundos – só espero que ele não me arranhe o rosto. Nunca pensei que esse bicho fosse tão saboroso...

Começou de novo. Por que será que eles insistem em bombardear este pedaço? Não tá destruído o suficiente? Sim, pode ser. Melhor tacar logo umas bombas pra preparar a tomada da cidade e, assim, poupar algumas vidas – melhor, poupar alguns peões. São os peões que vencem a guerra. Se pelo menos tivessem consciência disso... Que tal dormirmos um pouco?

Eu também tô com fome. Mas isso não é o mais perigoso – o ser humano pode aguentar um tempo sem comer, mas a falta d'água é pior. Pelo menos a gente tem essa neve toda pra “beber”. Você sabia que os russos inventaram uma forma “limpa” de matar? Eles sufocam o sujeito com neve, que derrete depois e acaba com qualquer vestígio da causa mortis. Muito inteligentes, os russos. Será que eles vão resistir?

Tá sentindo? Brisa maldita! Por onde será que tá entrando? Hahaha, tem razão! Essa casa mais parece um queijo suíço! Pelo menos ainda tem telhado. Já pensou essa neve toda aqui dentro? Que frio! AI QUE FRIIIIIIIIIO!

Ei, acorda! Fica de olho, vou dar uma espiada. Não, só pela janela, mas fique atento! Tudo deserto. Marca aí na parede. Segundo dia sem avistá-los. Terceiro. Quarto.

Uma semana sem que nenhum rato dê o ar de sua graça – nem a comida nem os nazistas. O que será que houve? Vou dar uma volta. Ah, relaxa! Nós já estamos mortos mesmo! Todo mundo morre no dia em que nasce, a diferença é o tempo que levam pra notar... Tudo bem, se você faz questão. Vamos!



    • Ei você! PARADO! Ponha suas mãos na cabeça e deite-se no chão. AGORA!

    • Ah meu Deus! Muito obrigado! Tenha calma, oficial, eu não sou um nazista! E nem o senhor, pelo que vejo. Deus abençoe a América!

    • Quem é você, e o que faz aqui?

    • Sou um sobrevivente.

    • Há mais alguém?

    • Não, só eu e este rapaz aqui.

    • Que rapaz?


    Robson Ribeiro

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Compaixão e não-compaixão

Isso sim foi um tapa no rosto! Dizer que a compaixão é um mal que destrói a sociedade... Esta afirmação vai de encontro com tudo aquilo que penso – e sempre pensei – sobre o mundo! Uns dizem que Nietzsche foi um grande filósofo, outros que ele escrevia dopado, ou em meio a crises nervosas.

Eu não sei o que pensar, e não tenho vergonha disto. Antes assumir a dúvida – dizer não sei é muito difícil para aqueles que procuram desesperadamente uma auto-afirmação – do que ficar regurgitando palavras engolidas e não digeridas por aí. Digerir, aliás, é difícil e leva tempo! Será que alguém pode digerir a vida na casa dos 20? Acho que não. Não se pode ser um gênio na arte de viver como se pode nas artes da música ou pintura, por exemplo.

As vezes me sinto vítima dos filósofos. Tenho uma linha de pensamento lógica e racional. Eles, os filósofos, são lógicos em seus argumentos, o que me leva a concordar com o que dizem – ou melhor, escrevem. Isso é perigoso. O ser humano não é máquina – não é lógica pura e simplesmente.

Não sei se são filósofos ou sofistas esses caras. É tido por sofista aquele que faz uso da dialética e da retórica para subjugar seu interlocutor e fazer com este acredite em seu ponto de vista. Mas o filósofo se vale dos mesmos artifícios. É, portanto, uma diferença de cunho ético/moral – diz-se que o filósofo tem objetivos nobres e o sofista, não.

Acontece que ética e moral são conceitos construídos à base de vivência e maturidade, aliados a estudos e debates – talvez até algo mais, não sei. Mas como podem achar alguns que têm condições de “criar um próprio código ético/moral” sem estes ingredientes? E, mais do que isso, querer empurrar esta massa sem fermento e forno goela abaixo daqueles ao seu redor? Isto é petulÂNCIA, ignorÂNCIA e acima de tudo ÂNSIA de mostrar que é alguma coisa diferente, especial. É preciso ter calma. Ter paciência. Descer do muro apenas quando tiver estatura para isso!

De volta ao início: posso entender o mal que a compaixão causa ao mundo. Compaixão leva à doação, e doação é gratuidade por excelência. Mas nada que vem de graça tem muito valor. É como a história do “dar o peixe e do aprender a pescar”. Dar o peixe resolve a curto prazo, mas a longo prazo o crescimento necessário não chega nunca. O que esperar de um país que tem bolsa família? Alguém vai querer se mexer? Se ninguém se mexer, o país anda?

Mas o que fazer? Sem o alimento necessário a pessoa não pensa. Sem pensar não cresce. Mas se ganhar o alimento, não pensa em obtê-lo por conta própria, e se não o fizer, não cresce! Como fazer do ciclo vicioso uma espiral crescente, “pro alto e avante” como diz o “Superomão”?

Compaixão seguida de “não-compaixão”.

Compaixão sim. Não concordo (pelo menos não ainda, quem sabe?) que a “teoria da seleção natural” se aplique aos seres humanos. Tampouco concordo que entre seres humanos se aplique a lei do mais forte. Disse Aristóteles que existem diferenças naturais – físicas e mentais – entre os homens. Digo eu que isso não me basta para aceitar a riqueza de uns e a miséria de outros.

Concordo com Nietzsche quando este ataca o cristianismo. A Igreja quando instituição se mostrou muito nociva ao andamento da sociedade – e pensar que Platão apoiava a idéia de controlar o povo por meio da religião.

Mas a compaixão ainda é necessária no mundo em que vivemos. Precisamos ter compaixão para quebrar a inércia – dar um impulso inicial no crescimento, como aquele tapinha que os médicos dão no bumbum do recém-nascido.

Porém, com a roda em movimento, não podemos nos acomodar – inércia existe quando não podemos sair do repouso e quando não podemos sair dum mesmo movimento, e para seguir a espiral do crescimento é necessário sempre um movimento diferente – e este é o momento de praticar a não-compaixão. Quando as coisas não mais vierem de graça, sairemos da inércia novamente e, assim, cresceremos.

Nietzsche se considerava um escritor póstumo – dizia que estava à frente de seu tempo. Creio que estava muito à frente. O mundo sem compaixão poderá existir algum dia, mas apenas no dia em que todos tiverem a oportunidade de pastorear a própria vida.

Robson Ribeiro

Um mundo especial



  • Diego, pode me ouvir?

  • Sim mamãe! O que houve?

  • Nada meu filho, apenas preciso falar um pouco com você.

  • Estou ouvindo!

  • Sabe filho, está na hora d'eu te explicar algumas coisas sobre o mundo.

  • Sobre o mundo mamãe?

  • Sim. O mundo é este lugar onde vivemos, feito de lugares e pessoas. O mundo, filho, pode ser muito especial.

  • O que é especial mamãe?

  • Especial é aquilo que nos faz felizes. Tudo de que gostamos é especial para nós, filho.

  • Então você é especial pra mim mamãe!

  • Você também é muito especial pra mim, meu filho.

  • E o mundo mãe? Como faço pro mundo ser especial pra mim?

  • Ah, filho. Primeiro você tem de ser especial para o mundo...

  • Eu?! Eu devo deixar o mundo feliz para que o mundo me deixe feliz?

  • É mais ou menos isso filho.

  • Mas como mamãe?

  • Primeiro, você tem de acreditar, confiar e amar a mim e ao seu pai. Você deve fazer o que dissermos, mas não por medo das consequências – por respeito. Você deve amar seus pais, e respeitá-los. Sempre.

  • Mas eu devo fazer o que vocês quiserem pra sempre, mãe?

  • Não filho. Vai chegar um tempo em que você sentirá que pode caminhar com as próprias pernas. Nesta hora – e para sempre – você deverá ouvir sua mente e seu coração em harmonia. Se houver dissonância em algum aspecto, algo está errado e você deve corrigir.

  • Puxa mãe, isso parece tão difícil!

  • A vida não é fácil filho. Muitas vezes você sentirá vontade de desistir. Muitas pessoas dirão para você desistir – dirão que nunca irá realizar seu sonho. Mas você não deve ouvir estas pessoas, filho. Não que elas queiram o seu mal, apenas não puderam realizar seus próprios sonhos. Triste vida leva quem não pôde realizar seu sonho...

  • O que é um sonho mamãe?

  • Sonho, filho, é a forma como se manifesta a nossa missão no mundo. Todos viemos ao mundo com uma missão a realizar. É realizando nosso sonho que deixamos o mundo feliz. Realizando nosso sonho passamos a ser especial para o mundo, e o mundo passa a ser especial para nós.

  • Êita mãe! O sonho parece algo tão importante! E se eu nunca descobrir qual é o meu sonho?

  • Tenha calma, filho. Calma e paciência. Nosso sonho sempre se manifesta, diversas vezes, em nossa vida. O sonho caminha lado-a-lado com o dom. Quando descobrir o sonho descobrirá também o dom, e vice-versa. Quando descobre-se o próprio dom, encontra-se o sonho.

  • Mãe! Que dom você acha que eu tenho?!

  • Ah, Diego. Isso, não posso responder – você nem saiu da minha barriga ainda! Tenha paciência filho. Seu dom – e seu sonho – está aí em algum lugar, esperando a hora certa pra se mostrar!

  • Mal posso esperar, mamãe!

  • Tenha paciência filho, e pense em tudo que te disse. Procure viver da forma como falei, pois do contrário, seus olhos jamais verão tua imagem verdadeira, onde mora o seu dom e teu sonho espera para se realizar. E para tornar seu mundo especial.

  • Prometo que serei paciente mamãe! Sempre amarei e respeitarei você e o papai acima de tudo e, quando chegar a hora, vou realizar meu sonho e cumprir minha missão!


Robson Ribeiro