quinta-feira, 1 de julho de 2010

O beat da beata (título emprestado)

Ela era, ainda, uma incógnita. Havia demonstrado interesse por diversas vezes, enquanto eu era comprometido. Quando fiquei solteiro, porém, não deu muita abertura às minhas investidas. Na verdade, não deu nenhuma.

Nós (o Emerson, o Gui e eu – democraticamente em ordem alfabética) tínhamos o hábito de dar apelidos às garotas, afinal, nós sempre falávamos de tantas garotas que era impraticável lembrar de todas elas “apenas pelo nome”. Elas precisavam de um rótulo pra serem identificadas de imediato.



    • ...ela não ligou. Eu não sei mais o que fazer, acho que vou desistir de sair com ela. - desabafei com os rapazes.

    • Espera aí, ela quem? - perguntou o Gui.

    • A Ju, já falei. - respondi, meio indignado. Parecia que não prestavam atenção.

    • A, “a Ju”. Grande coisa. Como vamos saber qual de suas 419 paixões desse mês é a “Ju”? - defendeu-se o Gui.

    • Verdade – interveio o Emerson – você tem que dar um apelido pra ela.




Pensei. Qual era a característica mais acentuada que eu conhecia daquela moça?



    • Tá bom. Então “essa” vai ser a “Beata”.




Beata! Uma lâmpada acendeu-se sobre minha cabeça – aquela das ideias geniais. “Por que eu não pensei nisso antes?” - pensei.



    • Já sei como vou fazer pra sair com ela!




Contei-lhes o plano.



    • Nossa! Isso é perfeito! Você não presta, mas o plano é perfeito! - disseram os dois, quase em uníssono.




Dois dias depois, falei com a Beata pelo MSN:



    • ...e por isso eu não pude ir na visita técnica que a escola promoveu. Pior que é muito importante que eu assista, pois haverá uma prova sobre isso. Você não gostaria de ir comigo? - perguntei.

    • Mas é claro!! Nem acredito! Eu nunca fui assistir! Nunca pensei que você me chamaria prum lugar desses! Faz assim, eu te ligo amanhã pra gente combinar melhor!

    • Mas vai ligar mesmo, ou vai me deixar no vácuo como da outra vez?




Ela ligou.

Marcamos o passeio pro dia seguinte.

Era domingo de manhã – alguns dirão que 10 horas da manhã é madrugada prum domingo. O dia estava simplesmente lindo! O céu bem azulzinho, limpinho. Temperatura muito agradável, algo em torno dos 25 graus. Os prédios enormes projetavam uma sombra por todo o Largo, e uma brisa geladinha me tocava o rosto. Era uma manhã perfeita pro romance. Eu estava encostado junto à saída do metrô esperando ela chegar.
    - Nossa – falei, surpreso (talvez até demais) – você está linda!

Ela vestia uma sandalhinha, calça jeans, uma blusinha branca com alguma coisa cinza (não sei o que era aquilo!) sobre os ombros. O cabelo curto repuxado num rabinho-de-cavalo com algumas “mini-piranhas” prendendo umas madeixas rebeldes e o rosto levemente maquiado – o mínimo pra dar um toque sensual, e o máximo pra não incomodar o...padre?! Sim. O padre.

Calma. Não a pedi em casamento – já passou o tempo em que as beatas (e as mulheres em geral) se guardavam pra casar de branco.



    • Obrigada – ela respondeu. Vamos entrar?

    • Claro! Já vai começar!




Entramos. Ela fez o sinal da cruz.

O Mosteiro de São Bento (São Paulo, SP) foi a minha salvação. Chamei a Beata pra assistir ao Canto Gregoriano das missas de domingo. Como estudante de regência, era mesmo necessário assistir. Como conquistador barato, foi a última cartada – desesperada, confesso – pra conseguir sair com a moça e não perder a moral.

Deu certo. Depois de longas duas horas em pé ouvindo cantos em latim e sermões em grego - pra mim os padres sempre falam grego – nós demos uma volta pelo centro da cidade e, bom, não preciso entrar em detalhes...

Robson Ribeiro

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