terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Monte Car(l)o

Já no trem a paisagem anuncia o que está por vir. O quadro em movimento é tão lindo que qualquer descrição é mera formalidade. De qualquer forma... De onde estou sentado é possível observar o mar delimitado pela serra e pelo céu. O sol irradia luz e vida para todos os lados, mas o calor só é sentido pelos olhos, afinal é inverno no sul da França. O céu limpo é de um azul puro como o próprio reino dos céus, e rivaliza apenas com o azul-verde-marinho d’água, onde os barcos deslizam com a altivez d’um monarca (não um monarca francês, certamente).

Estamos num trem que partiu de Nice com destino a Monte Carlo.

A cidade mostra porque é tão famosa: ao sair da estação de trem dou de cara com o mar (lindo). Não demora para o queixo cair. Caminhando um pouco pela cidade me rendo ao glamour das Ferraris, dos Porsches, Lotus e Lamborghinis distribuídos pelas ruas que, para meu espanto, param para atravesarmos as ruas a qualquer momento – não sei se por educação ou puro deleite dos condutores, ao notarem nossa admiração por seus carrões.

Na marina, Iates. Muitos Iates. Grandes, luxuosos, vazios. E muito caros. Os Iates são realmente incríveis, nos fazem querer subir a bordo, tocar, fotografar, levar pra casa. Literalmente.

Caminhamos pela praia, boquiabertos. A falta de ar não vem pelo cansaço (que cansaço? Estou em Mônaco!), mas sim pela beleza do local – se Deus criou o mundo de fato, este lugar ele não fez apenas com palavras, aposto que arregaçou as mangas e o pintou com mais habilidade e intensidade que Da Vinci ou Michelangelo sequer poderiam imaginar.

Neste momento a dúvida ganha espaço: será que o Criador perdeu tanto tempo nesta tela que foi obrigado a terminar de qualquer jeito certos lugares como a maioria das nações africanas, ou os países latino-americanos? Mas esses lugares também têm paisagens lindas...

Continuamos nosso passeio seguindo (ou tentando) o traçado do famoso circuito de Fórmula 1. Saímos da orla da praia e começamos a conhecer um pouco da cidade. Com alguns prédios incríveis e outros nem tanto, o luxo e o poder financeiro entram por nossos poros sem pedir licença. Neste lugar se encontra o metro quadrado mais caro do mundo. Isso não é obra Deus. Não diretamente.

Aqui a dúvida persiste: como podem os homens ser todos iguais, se alguns mal têm para comer, e outros mantêm este paraíso para visitar uma ou duas vezes ao ano? Os homens são todos iguais aos olhos de Deus? Aos olhos do homem? Será que é justo eu desejar viver neste lugar quando tantos “querem apenas sobreviver”? E será que é justo não querer se alguns o fazem?

Não sei.

É hora de voltar. A experiência foi incrível. Inesquecível. Inaceitável. Vou fazer o quê?

Robson Ribeiro

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