sexta-feira, 14 de maio de 2010

Simples assim

Ela acordou pela manhã, feliz da vida – como sempre.

Ele acordou pela manhã, rebugentíssimo – como sempre.

Ela deu bom dia pras plantas, pros pássaros, pra porta, pras paredes, pro pai, pra mãe, pro irmão, pros cachorros, pra mesa, pra pia, pro espelho. Ela deu bom dia pra TUDO que seus olhos viam.

Ele não deu bom dia pra ninguém. Nem pra si mesmo.

Ela tomou banho, se arrumou, tomou café da manhã com a família, conversou bastante com todos eles. Deu uma espiadinha no quintal e falou com os cachorros. Passou pelo santuário, conversou com os antepassados, conversou com o Mestre, e agradeceu. Agradeceu por mais um dia, por estar viva! E assim, feliz, foi pro colégio.

Ele não tomou banho pois o tomara no dia anterior, como sempre. Lavou o rosto, se vestiu – tudo às pressas, pois estava atrasado como sempre – tomou uma xícara de café preto sem ao menos olhar na face de sua mãe, que se levantara apenas para lhe dar o café, e saiu correndo porta a fora. Sua mãe lhe disse alguma coisa, mas ele não ouviu.

Ela notou que o dia estava lindo: o céu azul, o sol radiante, lindas azaléias desafiando o frio do outono e pássaros animados numa conversa matinal.

Ele não notou nada disso.

Ela vestia uma calça jeans boca-de-sino azul clarinho, uma blusinha branca com a oração pela paz mundial, um cinto vermelho e um tênis branco/cinza. O cabelo preso na nuca em “rabo-de-cavalo”. Usava algumas pulseiras no braço esquerdo, brincos discretos e um anel de compromisso no dedo anelar direito.

Ele vestia uma camisa preta de uma famosa banda de heavy metal setentista, uma calça jeans surrada e um tênis preto. O cabelo desgrenhado, crescendo desordenadamente. Quatro brincos na orelha esquerda e dois na direita.

Ela caminhou uns 15 minutos de casa até o ponto de ônibus, onde esperou por mais 10 minutos pela condução, que veio lotada. Com um sorriso no rosto, deu bom dia para o motorista e para o cobrador, passou a catraca e se acomodou lá pelo meio do coletivo.

Ele caminhou uns 15 minutos de casa até o ponto de ônibus, onde não esperou mais do que um minuto pra pegar o primeiro ônibus que chegou, lotado. Com sua carranca habitual, passou – empurrando todos os outros passageiros – para o fundo do ônibus, onde se escorou junto à porta traseira.

Ela chegou na escola 15 minutos antes de tocar o sinal.

Ele chegou na escola no momento em que tocava o sinal.

Ela, calmamente, encontrou algumas colegas, deu bom dia à todas, uma por uma, e foi pra classe.

Ele, estressado, não falou com ninguém e correu pra classe.

Ela sabia em que classe seria a aula naquele dia.

Ele, não.

Ela vinha subindo a escadaria principal do prédio principal da escola, envolta numa conversa muito animada com suas colegas.

Ele vinha descendo a escadaria principal do prédio principal da escola, perdido em seus próprios pensamentos, tentando descobrir pra onde ir.

Ela olhou pra cima.

Ele olhou pra baixo.

Ela olhou dentro de seus olhos, bem fundo. Abriu seu sorriso lindo e sincero – como sempre – e lhe disse: bom dia!

Ele, atordoado, pego de surpresa, lhe respondeu: bom dia.

Ela seguiu seu caminho com as colegas. Passou por ele pelas escadas e levou consigo o coração do rapaz.

Ele sorriu pela primeira vez naquele dia. Pela primeira vez em muito tempo. Estava apaixonado. Simples assim.

Robson Ribeiro

6 comentários:

  1. vendo vc através de seus escritor...q bom!

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  2. a gente tá longe mas tá perto aeuaheuaeh!!
    =)

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  3. quem eh que pode dizer as coisas do coração?!?!?!?!?!?

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  4. pois é! tão simples, mas tão complicado...
    =)

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  5. Olá Robson!
    Pois é.... Tão simples. Por que complicamos tudo?
    E se for complicado a gente simplifica.
    As coisas do coração não precisam de explicações basta serem vividas...
    Muito bom conhecer a sua versatilidade nos textos.

    Bjos
    Patricia

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  6. fico feliz q tenha gostado desse tb. esse é bem especial pra mim.

    beijo!

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