terça-feira, 5 de outubro de 2010

11 de novembro

Há muito tempo a moça não sentava naquele degrau sozinha. Mais ou menos nove anos. “...venha, sente-se aqui comigo! Esse degrau é muito importante pra mim, sabe? Desde pequena eu me sento aqui para observar as pessoas e pensar na vida. É meu lugarzinho especial, e à partir de hoje é o nosso lugarzinho especial...” foi o que ela lhe disse na primeira vez que sentaram-se juntos naquele degrau.

Perto dali o rapaz ainda resmungava em pensamento: “...diabos! Por que tinha que fazer tanto frio hoje? E essa neblina? Justo hoje essa maldita neblina tinha que aparecer? Nada mais poderia me brochar tanto...”

“...parece que, como eu mesma, o céu não consegue mais chorar. Essa neblina também domina o meu coração. Que coisa. A última vez que estivemos aqui o dia estava tão lindo, claro, ensolarado, quente...” pensava a moça, ignorando quase completamente o cartão postal que se erguia diante de seus olhos.

Mas ao rapaz não passava despercebido. Na verdade, sua única razão para sair da cama quente – mas não muito macia – do hotel naquele dia frio era visitar aquele lugar tão famoso. “...sinceramente, eu não vejo nenhuma graça nessa...”
- One Euro! Six of them for one Euro! - Um vendedor ambulante interrompeu o pensamento do rapaz.

    • Sorry, I don't speak english – respondeu o rapaz, da forma como fora orientado por seu irmão.

    • Tu compras seis por uno Euro – arriscou o vendedor poliglota.

    • Sorry, thank you – disse o rapaz saindo rapidamente de perto do insistente vendedor.

“...caramba! Que cara insistente! Eles deviam proibir esses vendedores ambulantes, botar a polícia em cima, sei lá! Definitivamente, eu não deveria ter saído daquela cama hoje!”

“...eu tenho dó desses vendedores. No fundo, eles só querem ganhar a vida de forma digna e honesta. Mas eles poderiam ser menos invasivos também...De qualquer forma, é uma ótima estratégia saber uma ou duas frases em vários idiomas, afinal todo turista fica feliz em ouvir a própria língua longe de casa...” pensava a moça, num raro momento de distração. Ainda era muito difícil pra ela lidar com a perda.

O rapaz, ao contrário, estava bem concentrado procurando sua máquina fotográfica em sua enorme mochila de viagem. “...ai meu Jesus Cristo! Onde foi que eu enfiei aquela máquina? Eu vou me matar se tiver esquecido aquela porcaria no hotel. Eu preciso tirar uma daquelas fotos básicas pra botar no Orkut, como todo mundo que vem à Paris faz: num ângulo de baixo pra cima, onde meu rosto aparece em primeiro plano e aquela geringonça lá traz. Pelo menos isso...”

“...que ironia esse sorriso enorme no meu rosto. Não, irônico é o motivo do sorriso – o mesmo que me fez chorar nos últimos sete meses, até minhas lágrimas secarem...” pensava a moça ao olhar pra foto que ainda mantinha em seu telefone celular, onde aparecia naquele mesmo degrau abraçada com seu ex-namorado.

O rapaz, com a câmera em mãos, sentia-se mais aliviado. Antes de seguir caminho, porém, achou que seria bom ter uma foto dali, onde poderia pegar a maior parte do imponente edifício atrás de si. “...melhor pedir pra alguma mocinha, geralmente as mulheres são mais gentis. Depois, é uma boa desculpa pra puxar assunto e quem sabe...”

“...a, não acredito. Por que esse cara tá vindo pedir pra mim? Poxa, tem tanta gente aqui, tinha que ser logo eu?” A moça era, normalmente, gentil – só estava um pouco triste naquele dia.

    • Excuse-me. Could you take a picture, please? - arriscou o rapaz com seu 'inglês de turista'.

    • Claro – respondeu a moça, em português, por haver notado uma bandeirola do Brasil presa na mochila do rapaz.

    • Que maravilha, você fala português! - o rapaz mudou de idéia. Passou a achar excelente a idéia de sair da cama naquele dia frio.

    • Sim, e você também – brincou a moça, feliz por ter sido escolhida para tirar uma foto de um rapaz tão bonito...

    • É né? Então, você tira a foto?

    • Sim, sem problema!

Sem aviso prévio o rapaz abraçou a moça com o braço esquerdo, ficando ombro-a-ombro, e com a mão direita bateu a foto, onde aparecia em primeiro plano dando um beijo no rosto (surpreso) da moça e ao fundo a famosa Torre Eiffel, coberta de neblina do cume ao meio.


Robson Ribeiro

3 comentários:

  1. heya soledad!
    fico feliz que tenha gostado!
    tenho também outro blog, pode dar uma olhada depois:

    www.minhasnotasdeviagem.blogpost.com

    beijos!

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  2. Oh Robson,eu adoro contos assim..leve,sútil,com romance e ah,muuuito minha cara xD . HAHAHAHHAHA
    Eu amei,sério <3

    E achei mais legal ainda o fato que você foi descrevendo os dois,sabe?Sério,ficou muuuito muuito legal :)


    Cinco estrelinhas *_*

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