quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O clímax da Criação

Não quero falar sobre como começou aquela noite. Levaria muito tempo para descrever cada capítulo dos 10 anos que nos levaram àquele momento. Não. Desta vez quero falar apenas daquele momento. Registrar cada respiração, cada movimento, cada batida do coração – escrevo no singular porque sempre fomos um só, duas metades do mesmo ser.

O quarto estava escuro. Pela janela entreaberta um tímido raio de luz adentrava – era a Lua testemunhando o momento máximo do ser humano. O clímax de sua existência. A razão pela qual foi criado. Sempre que presenciava um momento como aquele, a Lua compreendia o motivo da criação, e se compadecia da triste realidade do Criador – existir só. Ser uno, completo em si mesmo, sem nada que pudesse lhe fazer falta para que pudesse sentir alegria na conquista.

Ela vestia branco.
Eu também.

Pedi que ela fechasse os olhos por um instante. Aproximei-me por traz, afastei seu cabelo (longo, castanho e cacheado) e o depositei, gentilmente, sobre seu ombro direito. Seu pescoço revelou-se. Apesar de lindo, longo, tive de abaixar a cabeça alguns centímetros antes de poder beijá-lo. Um beijo leve, flutuante. Meus lábios, grossos, mal tocaram-lhe a pele – na verdade acho que tocaram apenas os pêlos eriçados ao pé da nuca.

Pude sentir, uma vez mais naquela noite, seu perfume. Aroma floral. Flor-de-lis.
Minhas mãos envolveram, quase sem toque, teus ombros desnudos (ela usava um vestido de alcinhas). Não resisti, dei-lhe uma leve mordiscada no pescoço e senti seus pêlos dos ombros – e certamente do corpo todo – eriçarem-se também.

Nunca pensei que pudesse ser tão generoso. Eu controlava meu pulso, meu ímpeto com a mesma eficiência que um maestro dirigindo uma orquestra. A diferença é que para mim não houve partitura ou ensaios. A música foi composta naquele momento.

Ela então se virou, olhou-me fundo nos olhos como se pudesse me ler, me decifrar. Como se pudesse ver através deles tudo aquilo que eu realmente sou. De fato ela podia.

Ainda me olhando daquela forma ela foi desabotoando, sem pressa, cada um dos botões da minha camisa. Quando terminou, colocou ambas as mãos sobre o meu peito. As deixou ali alguns segundos – talvez para certificar-se de que meu coração ainda batia.

Então movimentou as mãos em sentido contrário, suave, quase sem toque também, e assim despiu meu tórax. Ela também não resistiu e me deu uma leve mordiscada no peito (que deixou todos os pêlos do meu corpo em estado de alerta) seguida de um beijo no pescoço e assim, beijando, subiu nas pontas dos pés – como uma bailarina – até que seus lábios encontrassem os meus.

De repente, um sorriso serelepe. Sem nenhum outro aviso, ela me empurrou. Caí de costas na cama. Ela tirou meus sapatos. Subiu mais um pouco. Tirou o cinto. Tirou a calça – e com o mesmo movimento, todo o resto. Eu fiquei nu.

Fazendo aquele movimento com os dedos indicador e médio, que simula uma “formiguinha”, ela percorreu todo o meu corpo. Dos pés até os lábios, onde depositou o dedo indicador como se pudesse sentir cada palavra que eu não encontrava. Não era preciso falar nada.

Ela então ficou de pé ao lado da cama.
Com apenas dois movimentos ela se despiu por completo.
Então ela deitou-se do meu lado, colocou a cabeça no peito e disse:

    • Eu te amo.

    • Eu te amo – respondi.

    • Estou com medo.

    • Eu também – concordei.

    • Nunca me senti tão feliz.

    • Nem eu.

E estas foram nossas únicas palavras naquela noite.

2 comentários:

  1. Que bela maneira de descrever um momento como esse, fantástico :)

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Joana, fico feliz q tenha gostado!

    ResponderExcluir